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oblivio-inconfesso.html
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<!DOCTYPE html>
<html lang="en">
<head>
<meta charset="utf-8">
<title>♡ cristalvioletacristal ♡</title>
<link rel="shortcut icon" href="./images/icon/vvinx1280000.png" type="image/x-icon">
<meta name="viewport" content="width=device-width, initial-scale=1.0">
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</head>
<body>
<video autoplay muted loop id="videoDemaisParaContar">
<source src="./videos/demais-para-contar.mp4" type="video/mp4">
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<header class="header">
<h1>cristalvioletacristal</h1>
</header>
<div class="p1">
<a href="./index.html" class="back-button"> <home </a>
<h1 class="title"><a class:"pointer-link" style="color:#FF0000" href="https://web.archive.org/web/20211206181841/http://inconfess.io/">inconfess.io (2021)</a></h1>
<div class="gallery">
<a href="https://web.archive.org/web/20211206181841/http://inconfess.io/">
<p style="margin:20px"><img src="./images/projects/senhora-dos-pecados/inconfessio-icone-horizontal.jpg" alt="Imagem ilustrativa"></p>
</a>
<p>Errei e me fiz sozinha. De novo.</p>
<!-- <p>Em 2021 publiquei meu primeiro confessionário: <a href="https://web.archive.org/web/20211206181841/http://inconfess.io/">inconfess.io</a>. Um lugar na rede em que o perdão é certo e secreto, a um clique. Em 2024, não mais sozinha, concretizei com a coletiva not-binary-code um segundo confessionário, dessa vez dentro de uma igreja. A instalação foi batizada de “Oblívio Inconfesso”.</p> -->
<!-- <p><strong class="subtitle">Inconfessio</strong></p> -->
<p><a style="color:#FF0000" href="https://web.archive.org/web/20211206181841/http://inconfess.io/">inconfess.io</a> é um lugar virtual e uma ferramenta ritual de reflexão. Ao inconfessar, reflita sobre seus atos e receba o perdão.</p>
<p style="margin:0px">por violeta</p>
</div>
<p><strong class="subtitle">Interação</strong></p>
<p>Na busca por explorar as possibilidades narrativas da arte interativa, me interessei pela possibilidade de interação por texto. O “Chat-GPT” seria lançado apenas um ano depois e, até então, as obras com interação por texto que me interessavam eram sempre net-art, ou seja, conectavam pessoas umas às outras, enquanto o que eu buscava era privacidade e solitude. Perante à impossibilidade de interlocutor convincente, decidi reduzir-lhe ao mínimo que conseguisse. Assim, o elemento fundamental da obra deveria ser a própria ação escrita. Ao escrever, uma pessoa é provocada a refletir e articular seus pensamentos e sentimentos. Eu havia ritualizado a escrita como ferramenta de cura, para mim mesma, e quis compartilhar a potência desse processo de reflexão através de um projeto artístico. Mas qual elemento simbólico tornaria uma caixa de texto em um momento de reflexão? Foi aí que uma história de Olga, minha irmã mais velha, atravessou o projeto.</p>
<p><a href="https://www.instagram.com/olgauniversos/"><strong class="subtitle" style="color:#FF0000"><em>Olga</em></strong></a></p>
<p><em>“cresci frequentando uma igreja que parecia diferente. o foco não era o fogo do inferno, e sim o grande Deus de amor, misericordioso, com perdão pra dar e vender. ensinaram-me que na confissão eu deveria falar sobre o que me afastava desse tal Deus de amor. supostamente o bispo deveria me oferecer orientação e apoio espiritual. distraída, acreditei.”</em></p>
<p><em>“e o que afasta mais do que a raiva e a mágoa?”, pensei.</em></p>
<p><em>então, contei que estava com problemas com meu pai, por ele não aceitar meu namoro com outra mulher. a resposta? “a igreja tem seus dogmas e não pode lhe absolver desse pecado”.</em></p>
<p><em>é óbvio que ele não estava falando do problema com meu pai.</em></p>
<p><img src="https://lh7-rt.googleusercontent.com/docsz/AD_4nXdObTY-qtREdHQiKsudAnDSTLVZR7egLX4_EsGnSyIvstiM3tJ9MOaiW-UiKn_ZFu0MbbZ98SElpeFAAb0C-W3Gnnr87EFhOMnjAlN-GVZxpfIphr0Rizqwo8pDcyD8siMBqgqWcA?key=74Rs9jBnwqOdpMez6YdhE2dc" width="318" height="318" alt="Imagem ilustrativa"></p>
<p><em>meu AMOR era considerado pecado IMPERDOÁVEL para o “deus de infinita misericórdia”. minha existência era imperdoável.</em></p>
<p><em>no mesmo dia, terminei minha relação - com a igreja.</em></p>
<p><em>felizmente, eu já aceitava muito bem a mim mesma. mas muitas pessoas não têm a mesma sorte.</em></p>
<p><em>essa semana, o vaticano perdeu mais uma ótima oportunidade de ficar calado, ao reafirmar que amor entre pessoas do mesmo gênero é pecado. suas mãos estão sujas com o sangue de pessoas LGBT+ assassinadas e suicidadas em nome da igreja.</em></p>
<p><em>cristão mesmo é quem prega o amor e acolhimento que Jesus Cristo demonstrou pelo exemplo.”</em> - Olga Pinheiro, minha irmã. Publicado em <a href="https://www.instagram.com/p/CMkVQOXLiGR/" style="color:#FF0000">@olgauniversos</a>.</p>
<details>
<summary><strong>Como uma caixa de fósforos</strong></summary>
<p>Eu não uso caixas de fósforos. A chegada do último fósforo me traz uma profunda tristeza. Na cultura de onde venho, a festa junina é marcada pelo fogo, e me marcou por bombinhas, brincadeira e romance. Perante minha solidão romântica, romantizada, sendo uma pessoa não-binária socialmente estranha, no meio de meninos e meninas, as bombas e brincadeiras me distraíam muito bem e traziam euforia. No resto do ano, eu socializava pouco e não tinha amizades no condomínio onde morava. No São João, viajava sempre para um condomínio em Gravatá e encontrava muita gente conhecida e desconhecida. Por isso, esses momentos eram intensos e eufóricos. A adrenalina de brincar, “bombardear” e socializar era tanta que me deixava buscando sempre mais e, quando acabavam as bombas, os fósforos e qualquer coisa que pegasse fogo suavizavam a queda da euforia. Navegando sociabilidades carregando minhas estranhices, aprendi a queimar o resto, sem queimar a mim mesma. Mas, na época, encontrei outros caminhos, e me afastei antes de explodir.</p>
<p>Após alguns anos sem viver aquela infância de que falei, conquistei o respeito. Amei, fui amada e eventualmente queimei tudo à volta. Errei, vivi outras festas juninas intensamente pesadas, e afinal me vi sobre as cinzas da imensa fogueira que havia levantado com esforço e amor coletivo, ao longo de alguns anos. Dessa vez, eu afastei meus entornos, porém foi tarde.</p>
<p>Quase sozinha, digeri raiva por seis meses, culpa e confusão por um ano. Não mais sozinha, digeri a culpa por mais dois, três ou quatro. Três anos após o grande incêndio que causei ao meu redor, descobri partes de mim que já morriam desde muito antes. No seu funeral, decidi adiantar a culpa. Foi então que idealizei “inconfess.io”.</p>
</details>
<details>
<summary><strong>Ateia batizada</strong></summary>
<p>Eu sou ateia desde que me dou por gente, mas minha primeira infância foi marcada por rituais religiosos contrastantes com a minha precoce compreensão da religião como um pacote de inconsistências institucionalmente legitimadas. Acontece que, mesmo ateia, não escapei das culpas. Unida à martirização, a culpa cristã como hábito me subjugara, já, por anos. Além dos erros que me fizeram incendiar meus arredores, naquele momento eu assumia minha transgeneridade. Culpas e medos me abarcaram, mas eu me mantive em pé. O conceito foi estabelecido: um confessionário sem padre confessor.</p>
<p>Meu desejo, então, era construir uma cabine confessional física que comportasse o computador que executaria o programa. Eventualmente, percebi que, além de não ter experiência com construção de objetos desse porte, não havia necessidade para a instalação física, afinal o pilar conceitual do projeto eram os quatro elementos que poderiam existir dentro de um website: teclado, caixa de texto, botão e perdão. Privacidade, então, seria um problema: como acreditar que as confissões não serão acessadas por mais ninguém? Dessa forma, fiz um website estático, mas cujo uso ainda assim requer um salto de fé.</p>
</details>
<p><strong class="subtitle">Interface</strong></p>
<p>Eu não sei desenhar nem construir nem esculpir, mas sei escrever, programar e copiar. Assim, idealmente a interface seria simples de implementar, mas ainda deveria estimular a introspecção. Escolhi a cor vermelha como principal, por ter o menor comprimento de onda e, assim, evitar estimular os olhos. Testei uma versão com a caixa de texto, o botão e um fundo preto que ficava vermelho enquanto apagava as confissões escritas ao pressionar do botão. Não foram suficientes para agarrar a atenção de alguém. Adicionei a mensagem de perdão e não foi suficiente. Minha ideia, então, foi implementada com uma animação procedural de fogo, o maior elemento atrator de olhares humanos.</p>
<p>A página da web foi, assim, implementada com HTML, CSS, Javascript e P5.js, ferramenta utilizada para reproduzir (e adaptar) <a href="https://openprocessing.org/sketch/1190852#" style="color:#FF0000"> o sketch “Fire (WIP)” criada pelo usuário “mobbarley” da rede OpenProcessing</a>. Também foi adicionada a mensagem de perdão, que atribui o poder do perdão a uma entidade cujo poder reina propriamente sobre a punição: uma fictícia deusa satã que habita o caos cibernético.</p>
<p><img src="./images/projects/senhora-dos-pecados/inconfessio-sermao.png" alt="Imagem ilustrativa" style="width:100%;"></p>
</div>
</body>
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